Bem vindo ao meu mundo

Bem vindo ao meu mundo

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Muito tempo depois...

Uma visão familiar.




Primeiro encontro.



Apenas uma barreira de vidro separava o saguão climatizado do aeroporto da névoa e da chuva fina e fria que caía lá fora.

O táxi amarelo estacionou em local proibido, bem em frente à porta principal e, do banco traseiro, desceu a mulher mais estonteante que eu já vira.

A porta automática deu passagem à criatura loira, linda e leve. Os pés da mulher pareciam não tocar o chão.

Naquele momento, como uma coreografia exaustivamente ensaiada, todas as cabeças viraram-se para a bela. Expressões de desejo e inveja confundiram-se nos rostos masculinos e femininos.

Ela vestia uma gabardine cinza-quase-prata e botas pretas de saltos altos, os cabelos soltos e secos, apesar da chuva lá fora.

Deslizando ela foi até o balcão de uma das empresas aéreas e manteve um curto diálogo com a funcionária que a atendeu sonambulicamente.

De onde eu estava não foi possível escutar a conversa entre ambas, mas a moça da empresa aérea, após consultas no terminal, assentiu com a cabeça e a loira afastou-se do balcão.

O mundo a volta recomeçou a girar. Todos retornaram ao que faziam antes da entrada daquela deusa. Menos eu que continuava hipnotizado pela divina aparição.

Segui-a até o portão de embarque. Naquele momento ela, num gesto demorado, virou a cabeça em minha direção e me encarou. Não consigo descrever em palavras a sensação que se apoderou de meu corpo. Os olhos da criatura eram negros e fundos como um abismo sem fim. Uma tontura inexplicável fez com que eu dobrasse as pernas e caísse de joelhos, um calafrio percorreu minha espinha até chegar ao couro cabeludo, fazendo meus poucos cabelos eriçarem-se. Perdi os sentidos.

Não sei quanto tempo se passou. Acordei em uma sala branca. Eu havia sido socorrido e levado a um pronto-socorro. Estava conectado a aparelhos que monitoravam meus sinais vitais. Livrei-me dos fios e saí cambaleante pelo corredor lotado de pessoas.

No saguão de entrada uma televisão era o centro das atenções. Uma edição extraordinária do jornal local noticiava o desaparecimento do voo 832 enquanto cruzava o Pacífico.

- Devo admitir, foi muito difícil processar os fatos. Você entende? Eu deveria estar naquele avião. Não embarquei porque passei mal e fui levado ao pronto-socorro.

- Calma, disse o psiquiatra, para tudo há uma explicação plausível.

- Pode ser, pode ser. Bem doutor... Nunca mais acharam sinais do avião e muito menos de sobreviventes ou de restos mortais, mas o senhor pode ter razão, deve haver alguma explicação.

Desisti das sessões. Com certeza não era um psiquiatra que teria explicações para esse primeiro encontro. Sim, eu encontrei mais duas vezes aquela mulher, mas isso fica para depois. É, depois eu conto. Agora estou com muito sono. Preciso dormir.